VARIAÇÕES DE UM MESMO NOME E UM NOVO HOMEM .
Não sou mais o Aurélio
E muito menos
Esse tal de Marcos
Rocha fiel a olhar
Sempre para frente
Em direção certa e norte
Paulistano de Pernambuco
Eu sou
Cabra forte
Da serrinha ou do planalto
Suçuarana ou Jaguar
Do pico do Jaguaré
Leão de Judah
Agora no Rio Pequeno
E assim permaneço
Tal qual um sólido
E resistente granito.
Em silencio ou no grito
Continuo na luta
E assim cotidianamente
Resisto e existo.
Os ataques de torcedores
Malfeitores e cruéis racistas
A nos chamarem de macacos
Pobre preto ou favelado
Paraíba ou baiano
Realmente não me importo
Mas nesta pobre e triste poesia
Denuncio
E o que mais me importa
o que penso de mim
mesmo
E agora me olho no
espelho
e assim me vejo por
inteiro
e verdadeiro
Negro, forte e bom baiano
Inteligente cabra pernambucano
E aos racistas de plantão
Em estádios de guerra
Ignorância e pouca
Ou melhor
Nenhuma inteligência
Dedico-lhes todo o
Meu desprezo e ciência
da Lei e sua
jurisprudência
Silva nunca mais serei.
De Portugal sim a língua
Mas banindo o que restou
De uma ideologia do mal
A serviço do tráfico
De homens que um dia
Foram tratados pior
Do que um animal
Não quero nem seus sujos
E tacanhos tamancos.
Nem suas armas e barões
Outrora assinalados
Por mim serão definitivamente esquecidas
De Oiapoque ao Chuí
E agora de bobeira
E por aqui
Olho e me vejo sempre
Como sim gente
e pacientemente
espero
Uma resposta legal
Aos torcedores
racistas
Preservando neste simples e humilde poema
A história de meus
antepassados
E conservando sua alma e perene memória
Desta minha família
Pedra rara quase
A se parecer
A um negro e raro diamante
Que a mim um dia
Foram avôs, avos e
irmãos
Primos e tias
Todos a descenderem
De um só trovão
Negro varão
De Belmiro Rocha
E todos seus descendentes
possuo em minhas
veias
sangue negro de um
forte
inteligente e muito valente
guerreiro e mestre capoeira
Na arte da ciência, ou melhor,
Sobrevivência
Aqui em terras brasilis
Foram eles meus negros antepassados
escravizados e
cruelmente explorados
Mas seus espíritos em forma
De lembranças memórias e orixás
Mandingas agora retornam
Na figura de
De profetas e
cangaceiros
Baianos feitos de pedra e barro
Resistente e porreta
Como a mais negra
E sólida madeira
Ébanos em forma de
gente são eles
Avos, filhos primos, irmãos e tias
De mineiros, paulistas
Baianos, cariocas ou pernambucanos
Mas sim brasileiros
Filhos da nação Congo
De fortes e inteligentes
Índios Tupis ou Guaranis
Protegidos por deuses
Antigos e imortais
Da nação Zambi
orixás negros ou
índios
Das nações Nagôs, Gegês
Tupinambás, Jês ou Tupis
de Alagoas, Mato Grosso ou Sergipe
Mas para sempre livres e hoje cidadãos
A lembrarem com orgulho
Suas origens
Sem tédio, ódio ou vertigem.
João do Gueto
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