terça-feira, 23 de setembro de 2014

VARIAÇÕES DE UM MESMO NOME



VARIAÇÕES DE UM MESMO NOME E UM NOVO HOMEM .

Não sou mais o Aurélio
E muito menos
Esse tal de Marcos
Rocha fiel a olhar
Sempre para frente
Em direção certa e norte
Paulistano de Pernambuco
Eu sou
Cabra forte
Da serrinha ou do planalto
Suçuarana ou Jaguar
Do pico do Jaguaré
Leão de Judah
Agora no Rio Pequeno


E assim permaneço
Tal qual um sólido
E resistente granito.
Em silencio ou no grito
Continuo na luta
E assim cotidianamente
 Resisto e existo.
Os ataques de torcedores
Malfeitores e cruéis racistas
A nos chamarem de macacos
Pobre preto ou favelado
Paraíba ou baiano

 Realmente não me  importo
Mas nesta pobre e triste poesia
Denuncio
E o que mais me importa
 o que penso de mim mesmo
 E agora me olho no espelho
  e assim me vejo por inteiro
 e verdadeiro
Negro, forte e bom baiano
Inteligente cabra pernambucano
E aos racistas de plantão
Em estádios de guerra
Ignorância e pouca
Ou melhor
Nenhuma inteligência
Dedico-lhes todo o
Meu desprezo e   ciência
 da Lei e sua jurisprudência
Silva nunca mais serei.
De Portugal sim a língua

Mas banindo o que restou
De uma ideologia do mal
A serviço do tráfico
De homens que um dia
Foram tratados pior
Do que um animal

Não quero nem seus sujos
E tacanhos tamancos.
Nem suas armas e barões
Outrora assinalados
Por mim serão definitivamente esquecidas
De Oiapoque ao Chuí
E agora de bobeira
E por aqui
Olho e me vejo sempre
 Como sim gente

 e pacientemente espero
Uma resposta legal
 Aos torcedores racistas


Preservando neste simples e humilde poema
 A história de meus antepassados
E conservando sua alma e perene memória
 Desta minha família



Pedra rara quase
A se parecer
A um negro e raro diamante
Que a mim um dia
 Foram avôs, avos e irmãos
Primos e tias
Todos a descenderem
De um só trovão
Negro varão



De Belmiro Rocha
E todos seus descendentes
 possuo em minhas veias


  sangue negro de um forte
inteligente e muito valente
guerreiro e mestre capoeira
Na arte da ciência, ou melhor,
Sobrevivência


Aqui em terras brasilis
Foram eles meus negros antepassados
 escravizados e cruelmente explorados
Mas seus espíritos em forma
De lembranças memórias e orixás
Mandingas agora retornam
Na figura de
 De profetas e cangaceiros
Baianos feitos de pedra e barro
 Resistente e porreta
Como a mais negra
E sólida madeira

 Ébanos em forma de gente são eles
Avos, filhos primos, irmãos e tias
De mineiros, paulistas
Baianos, cariocas ou pernambucanos
Mas sim brasileiros


Filhos da nação Congo
De fortes e inteligentes
Índios Tupis ou Guaranis
Protegidos por deuses
Antigos e imortais
Da nação Zambi
 orixás negros ou índios
Das nações Nagôs, Gegês
Tupinambás, Jês ou Tupis
de Alagoas, Mato Grosso ou Sergipe

Mas para sempre livres e hoje cidadãos
A lembrarem com orgulho
Suas origens
Sem tédio, ódio ou vertigem.

João do Gueto


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